A
REFERÊNCIA DA REVOLUÇÃO
Waldenyr
CALDAS*1
RESUMO:
O ano de 1968 tornou-se, no decorrer do tempo, uma espécie de
referência
para as grandes
transformações ocorridas nas décadas de 1960 e 1970. Um pouco
antes, porém, surgiu nos
Estados Unidos, nos anos de 1950, um movimento de jovens
que fi cou conhecido como beat
generation, cujos principais representantes foram
Jack Kerouac, Allen Ginsberg, entre outros. Foi um
grupo de moços intelectualizados
que propôs, por meio da
literatura e da arte, um estilo de vida e de comportamento
diferente do universo
pragmático e mercantilizado da sociedade americana.
Ao lado do rock’n’roll também
surgido nesse momento, a juventude teve as
condições para engendrar
uma grande revolução comportamental, que mais tarde
fi cou conhecida como o
movimento da contracultura, dos hippies e da cultura
psicodélica. A partir
desse momento estavam lançadas as bases para tudo o que
viria ocorrer nos anos de
1960 e 1970, décadas realmente revolucionárias, em que a
juventude não tergiversou
quanto ao direito de traçar seu próprio destino. Seu maior
objetivo era assegurar o
que o homem tem de mais precioso: a liberdade e a luta
contra a asfi xia
comportamental imposta pelo establishment.
PALAVRAS-CHAVE:
Contracultura. Política. Liberdade. Sociedade. Estado.
Revolução. Psicodélico.
Caro leitor, de início, é
preciso esclarecer o seguinte: na expressão “o ano de
1968” encerra-se muito
mais coisas, fatos e transformações do que podemos imaginar
à primeira vista. Ela
tornou-se uma espécie de referência (algo emblemático mesmo)
para acontecimentos
realmente revolucionários, que ocorreram a partir da segunda
metade dos anos 60 até o
início dos anos 70. No plano político, por exemplo, a
chamada “guerra fria”
acirrava ainda mais a luta político-ideológica entre a ex-União
das Repúblicas Socialistas
Soviéticas e os Estados Unidos. Mais do que uma disputa
bélica, que para o bem da humanidade
não chegou a se concretizar, estava por trás
* USP – Universidade
Estadual. Escola de Comunicações e Artes. São Paulo – SP – Brasil – da
Universidade de São Paulo
– USP. 05508-900 – waldenyr@usp.br
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Waldenyr
Caldas
Estudos
de Sociologia, Araraquara, v.14, n.26, p.51-64, 2009
desse confl ito o jogo
político de supremacia do capitalismo sobre o comunismo ou
vice-versa.
A revolução cubana buscava
se consolidar, a despeito (talvez por isso mesmo)
de constantes e iminentes
tentativas de invasão do seu território pelas forças
americanas. As teorias
acerca do subdesenvolvimento surgidas no início dos anos
60 ganhavam força ainda
maior no fi nal dessa década e passariam a ser estudadas,
analisadas e discutidas,
não só por boa parte de uma “intelligentsia” acadêmica, mas
também por segmentos da
cultura como teatro, cinema, música e literatura, entre
outros. Um debate que
atravessou o tempo e permanece contemporâneo.
Ao mesmo tempo, os
assassinatos de John Kennedy (1963), Martin Luther
King (1968) e Robert
Kennedy (1968), nos faziam antever que os anos 70 não
seriam menos tumultuados.
Em 1969, porém, com o pouso da nave Apolo 11 em
20 de julho no mar da
tranqüilidade e o passeio dos astronautas Neil Armstrong e
Edwin Aldrin pela
superfície lunar, a máquina publicitária da Casa Branca pode,
fi nalmente, apresentar ao
mundo, as provas da “superioridade” do Capitalismo sobre
o Comunismo.
Pouco tempo depois, em
1975, a Guerra do Vietnã chegava ao fi m de forma
melancólica para seus
invasores. Percebendo que a derrota era inevitável, os
últimos homens da
inteligência americana em Saigon, capital do Vietnã do Sul,
protagonizaram uma das
fugas mais humilhantes ao tentarem abandonar aquela
cidade. As imagens de
televisão registravam o momento exato em que, penduradas
para fora do helicóptero
do exército já superlotado, as autoridades americanas
fugiam para não serem
capturadas por vietcongs. Antes disso, porém, o próprio
povo americano, como faz
nesse momento em relação à Guerra do Iraque, cujo
peso é muito grande na
atual crise por que passa a economia desse país, organizava
manifestações públicas em
frente à Casa Branca contra a invasão do Vietnã. Um
dos melhores documentos
sobre esse momento é o fi lme Forest Gump de 1994, o
diretor americano Robert
Zemeckis.
Pois bem, fatos e
acontecimentos dessa magnitude já nos dão uma idéia, no
plano político, do que foi
este período tão recente, anterior e posterior ao ano de
1968. É possível que eles
tenham sido os mais impactantes para aquela época, mas
que se pense também no
caso Watergate, que culminou com a renúncia do presidente
Nixon, entre outros. Tanto
é assim que os refl exos de tudo isso se fi zeram presentes
estabelecendo um
equilíbrio de forças e, ao mesmo tempo, criando uma nova ordem
mundial, pelo menos até a
queda do muro de Berlim em 1989.
A partir desse momento,
sem a contrapartida político-ideológica do
Comunismo, os Estados
Unidos, lídimo representante do Capitalismo, passaria a ser,
assim, uma espécie de
“xerife do mundo” auto-nomeado. Nesse caso, a petulância
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não tem limites. Os
exemplos mais recentes são: a invasão do Panamá para prender
seu presidente, acusado de
trafi cante de drogas, a invasão do Iraque, a presença
ostensiva de forças
militares no Afeganistão, a inclusão da Coréia do Norte no
chamado “eixo do mal” e as
incessantes ameaças do Irã. Claro que essa beligerância
tem objetivos e interesses
econômicos, políticos, ideológicos e estratégicos que não
cabem discussão nesse
ensaio.
De qualquer modo, as
implicações que envolvem as questões políticas e
ideológicas, apenas mantêm
a mesma tensão de outras décadas. Hoje, talvez um
pouco menos do que a
chamada época da “guerra fria”. Assim, no plano político e
econômico, as decisões
convergem mesmo é para a administração prática de uma
economia voltada para a
nossa contemporaneidade. Trata-se agora, de fazer com
que esta fantástica
máquina econômica, em que pese a forte crise por que possa o
Capitalismo (especialmente
os EUA), continue produzindo os excelentes resultados
da relação
capital/trabalho. É nessa direção que têm pensado os tecnocratas em
nossa sociedade, isto é,
no mundo do capital, como bem nos mostra John Kenneth
Galbraith1.
Mas o Capitalismo não gera
apenas riqueza, pobreza e miséria, inclusão
e exclusão social,
privilégios e injustiças, exige também dos seus cidadãos um
comportamento sempre
“politicamente correto”, obediência cega e sôfrega ao capital
e o que é mais grave: a
subserviência do homem ao homem, plasmado justamente
no poder de acumulação da
riqueza, como mostra muito bem Max Weber (2000) na
sua obra A Ética
Protestante e o Espírito do Capitalismo. E aqui temos uma série de
provérbios populares de
rara sabedoria que esclarecem objetivamente essa questão.
Por exemplo: “quem pode
mais, chora menos”. “Todos são iguais perante a lei, mas
têm alguns mais iguais que
outros”.
Ora, a juventude dos anos
1960/70 já não aceitava mais esses padrões de
comportamento. Até porque
ela já havia herdado da chamada beat-generation
dos anos 1950 toda uma
reivindicação pelo que o homem tem de mais precioso: a
liberdade de decidir sobre
o seu destino e não aceitar liturgicamente os disfarces
estabelecidos por uma
sociedade que considerava anacrônica. Ainda que de forma
desorganizada e
espontânea, criar-se-ia uma resistência ideológica concentrada,
entre outras coisas, na
transgressão da ordem social vigente e no enfrentamento ao
establishment.
Lembremos aqui, como ilustração, o movimento da Contracultura.
1 Galbraith (John Kenneth), economista americano, Iona
Station, Ontário, 1908 – Cambridge,
Massachusetts, 2006. Colaborador de Roosevelt,
analisou a sociedade de consumo em A era da
opulência
(GALBRAITH, 1958) e o fenômeno do management em O novo estado
industrial (GALBRAITH,
1969).
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Assim é que a própria
juventude vai buscar nos escritos e ensinamentos de
pensadores como Hebert
Marcuse (que se pense em seu livro Eros e Civilização2),
Wilhel Reich (A
Revolução Sexual dos Jovens3), Jean-Paul Sartre, Michel Foucault
e os professores Timothy
Leary, Alan Watts, entre outros, justamente o direito à
liberdade. Mais
esclarecidos e politizados, aqueles jovens colocariam sua força,
energia e juventude a
serviço de sua liberdade de ação e das futuras gerações. Dessa
forma, as idéias que
envolvem o Capitalismo, repressão, alienação, sexualidade,
dominação, liberdade,
entre outras categorias, faria do livro Eros e Civilização,
um grande estímulo a mais
para que a juventude continuasse acreditando na
transformação social, na
renovação de valores da sociedade, em maior liberdade,
enfi m, em tudo aquilo que
preconizava o movimento da contracultura. Restava,
agora, direcionar-se para
a objetividade empírica dos fatos e do que pretendiam os
jovens. Como nos
esclarecem Wilhelm Reich et al. (1976, p.62): “[...] as discussões
teóricas são habitualmente
estéreis, quando não as situamos no terreno das questões
concretas e práticas”. Foi
isso, precisamente, o que fez boa parte da juventude que
contestava o autoritarismo
de uma sociedade superdirigida, de rótulos, clichês e
comportamentos
previsíveis, com os quais já não conseguia mais conviver.
Nessas condições, passar
da teoria à prática, embora fosse uma trajetória
dolorosa, era inevitável.
Expressiva parcela da juventude européia, americana,
japonesa e
latino-americana já procurava outros caminhos que a conduzisse a maior
liberdade e menos
vigilância da sociedade. Se o contexto político-econômico de
cada país já era motivo de
insatisfação desses jovens, não podemos subestimar, de
outra parte, sua natural
impetuosidade em busca da justiça social. Não há nenhuma
dúvida de que essa
vertente mais intelectualizada, mais esclarecida da contracultura
pensava nisso tanto quanto
na situação de desaprazimento em que vivia.
Confi gurava-se ainda, com
clareza, um antagonismo entre gerações em meio
a grandes desencontros e
confl itos políticos internacionais, gerando incerteza e
pessimismo. Apenas para ilustrar,
lembremos novamente da “guerra fria” e da guerra
do Vietnã. Nesse aspecto,
a juventude européia era bem mais atuante do que seus
companheiros
norte-americanos. Mas há uma explicação para isso. Embora rigoroso
em sua avaliação política
sobre os jovens europeus (até com certa razão), Theodore
Roszak (1968, p.16)
acrescenta o seguinte:
[...] herdeiros de um
legado esquerdista institucionalizado, os jovens radicais
europeus ainda se inclinam
a ver-se como os paladinos do ‘povo’ (a classe
trabalhadora) contra a
opressão da burguesia (na maioria dos casos seus próprios
pais). Por conseguinte,
tentam bravamente adaptar-se aos padrões habituais do
2 Cf. MARCUSE, 1969.
3 Cf. REICH, 1972.
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passado. Automaticamente,
dentro de linhas ideológicas estabelecidas, procuram
aliados – os
trabalhadores, os sindicatos, os partidos de esquerda – apenas para
constatar que,
estranhamente, as esperadas alianças não se concretizam e que eles
se encontram sós e
isolados, uma vanguarda sem seguidores.
As palavras de Roszak são
esclarecedoras e bastante coerentes com os fatos
históricos. De fato, foi
isso o que ocorreu. A juventude européia, ao politizar suas
reivindicações,
tornar-se-ia mesmo “uma vanguarda sem seguidores”. Seja como
for, o que não podemos é,
diante dos fatos, subestimar a força política da juventude
naquela ocasião. Com o
apoio do CGT – Central Général des Travailleurs e do
Partido Comunista, eles
chegaram mesmo, ainda que por alguns dias, a abalar as
estruturas da sociedade
francesa. Logo depois, porém, a rebelião de maio de 1968
perderia espaço para os
acordos fi xados entre o próprio governo francês, na pessoa
de Charles De Gaulle (ele
teria negociado pessoalmente), a CGT e o PC. O apoio
político aos jovens
estudantes, liderado por Daniel Cohn Bendit, viria de grandes
personalidades da intelligentsia
francesa, como o fi lósofo Jean-Paul Sartre, Michel
Foucault, Louis Althusser,
entre outros. Mesmo assim, ainda era insufi ciente. Do
outro lado das barricadas
criadas por esses jovens, estava o grande lastro dos mais
diversos segmentos da
sociedade francesa, disposto a assegurar o status-quo.
O apoio das forças sociais
adultas não veio. Eles viam no movimento estudantil
uma manifestação anárquica
e irresponsável, contra o qual o Estado deveria ser
rigoroso, restabelecer a
ordem e não tergiversar. Nem mesmo o apoio da tradicional
esquerda francesa,
reverenciada pelo seu alto nível de politização, acataria a causa
dos estudantes. A classe
operária, fi el aliada no início da grande greve de maio de
1968, capitularia. O
Estado a cooptou, oferecendo-lhe vantagens trabalhistas, entre
elas, uma política
salarial mais vantajosa. Assistimos, assim, a um verdadeiro confl ito,
não só
político-ideológico, mas também de geração, de formas diferentes de ver e
de interpretar o mundo.
O visual das barricadas
não deixava qualquer dúvida quanto à opção marxista
dos jovens contestadores
franceses. Grandes retratos de Lênin, Mao-Tse-Tung, Karl
Marx e Ernesto “Che”
Guevara, ao lado de bandeiras vermelhas, dos incessantes
cantos da Internacional,
davam o tom preciso do adorno ideológico das trincheiras.
Em menores proporções,
outros protestos de estudantes surgiriam ainda na Alemanha,
Inglaterra e Itália, nessa
mesma época. Aqui, nada a registrar, senão a indiferença da
sociedade às manifestações
e reivindicações e uma geração que desejava mudar o
mundo. E mais do que isso,
almejava tornar real a utopia da justiça social imaginada
por Thomas Morus. Uma
ilha/nação, com um sistema sociopolítico ideal, que
proporciona ótimas
condições de vida, igualdade e felicidade aos seus habitantes.
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Pois bem, a juventude
européia nos anos 60 vivia e vive ainda hoje em
sociedades democráticas,
mostrou sua insatisfação organizando protestos e rebeliões
contra o Estado. Os jovens
americanos, como já registramos anteriormente, não têm
essa prática política mais
desenvolvida. Falta-lhes a experiência nesse sentido. É que
o desempenho político da
esquerda naquele país sempre foi muito tímido e limitado.
Mesmo assim, na década de
60, eles foram às ruas se manifestar contra os atos de
racismo que se espalharam
por quase todo o território americano. No trabalho bem
realizado de Carlos
Alberto Messeder Pereira, temos a idéia das manifestações da
juventude americana nessa
época. Vejamos:
[...] especialmente no que
se refere aos Estados Unidos, toda a movimentação
em torno das várias
manifestações da cultura jovem, indo do fl ower power aos
estudantes e intelectuais
da Nova Esquerda, passando por movimentos como
o gay power ou women’s
lib, é acompanhada de perto pelo surgimento e pela
consolidação do black
power, o poder negro, cuja luta teve como ponto de partida
e ponte de articulação com
a revolta de outros grupos a difícil batalha pelos direitos
civis que marcou, desde o
início, a década de 60 nos Estados Unidos (PEREIRA,
1983, p.41).
No Brasil, diferentemente
dos países ocidentais europeus e dos Estados Unidos,
ainda não consolidamos a
democracia como sistema de governo. Portanto, um
compromisso a mais da
juventude brasileira é fortalecer, solidifi car nossas instituições
democráticas. Uma rápida
passagem por nossa história política já seria o sufi ciente
para se constatar que
tivemos, na verdade, o que aqui podemos chamar de débeis e
breves períodos
democráticos, pelo menos até 1985. A década de 60, como sabemos,
foi especialmente sinistra
para a democracia e a sociedade brasileira. Iniciaria com
a eleição do presidente
Jânio Quadros, que permaneceu apenas sete meses no poder.
Nem chegou a dizer o que
pretendia fazer com o cargo de presidente. Renunciou por
motivos não devidamente
esclarecidos até hoje e foi morar em Londres por algum
tempo. O vice-presidente
João Goulart assume a presidência e, em 1964, é deposto
por um golpe militar. Daí
em diante, até 1985, vivenciamos um terrível período
de autoritarismo imposto
pelos militares, como se o país fosse um grande quartel.
Somente a partir de
outubro de 1978 quando o Congresso Nacional aprova a emenda
constitucional número 11
(ela entraria em vigor em 1º de janeiro de 1979), é que
o quadro político se
abrandaria. Assim, se os jovens europeus, e até certo ponto os
americanos, viviam em uma
sociedade abúlica, tomada pelo torpor e, por isso mesmo,
recusavam-se a se integrar
à ordem estabelecida, a juventude brasileira vivia outra
realidade política e
social. Sua luta e reivindicações, pelo menos no início, era pelo
restabelecimento das
liberdades democráticas, como mostram os estudiosos da nossa
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história contemporânea. Os
mais diversos segmentos da sociedade se mobilizariam
com este objetivo.
Mesmo um pouco antes de os
militares tomarem o poder, estudantes e
intelectuais já
reivindicavam reformas de base. O objetivo era fortalecer as
instituições democráticas
que, uma vez mais, corriam sérios riscos durante o
governo João Goulart. Os
militares já haviam demonstrado sua insatisfação e o país
caminhava para o
autoritarismo. Um dos motivos deste descontentamento, entre
outros, era o fato de que
a UNE – União Nacional dos Estudantes – mobilizava
milhares de jovens para
discutir a política e a cultura brasileira. E isto com a anuência
do governo federal, uma
vez que esta entidade atuava legalmente. Assim é que, em
1961, a própria UNE
criaria o primeiro CPC – Centro popular de Cultura, abrindo
espaço para o surgimento
de diversos outros em todo o país. Bem intencionados,
os membros dos CPCs
desejavam criar condições e motivar as pessoas a fundar
uma concepção mais democrática
da cultura popular brasileira. Em outros termos,
pensar na “cultura
nacional-popular democrática”. O objetivo era, por intermédio
da cultura e das artes,
levar a todos os segmentos das classes populares um nível
de politização e de
consciência capaz de reconhecer sua importância e seu próprio
compromisso histórico com
a sociedade. Nessa época, cada vez mais, ganhava força
a ideologia política
marxista que, de certa forma, com a queda de Fulgêncio Batista
e a ascensão de Fidel
Castro ao poder, liderando a “revolução do povo cubano”,
chegava à América Latina.
Este é um acontecimento histórico, que empolgaria os
jovens universitários,
intelectuais e outros segmentos progressistas do nosso país.
Até porque vivíamos uma
situação política interna especialmente propícia para uma
abertura
político-ideológica à esquerda. Com o apoio e estímulo dos CPCs, surgiria o
artista criador da chamada
“arte engajada”, também chamada de “arte revolucionária”.
Os objetivos, claro, eram
sempre os mesmos: fazer com que o povo, ao se deparar
com esses trabalhos,
pudesse interpretá-los e tomar consciência de sua importância
política para decidir
sobre os rumos do país. Nessa direção, porém, os CPCs tinham
um projeto bastante
inovador e muito simpático, a meu ver, que era o contato direto
com o povo, procurando
reinterpretar seu cotidiano por meio das artes.
Os pesquisadores Heloisa
Buarque de Hollanda e Marcos A. Gonçalves nos
dão uma idéia bem clara
desse momento signifi cativo para a juventude universitária
do Brasil, suas propostas
e objetivos. Ao comentarem a efervescência política e o
trabalho desses jovens,
eles mostram que os CPCs
[...] encenavam peças em
portas de fábricas, favelas e sindicatos; publicavam
cadernos de poesia
vendidos a preços populares e iniciavam a realização pioneira
de fi lmes autofi
nanciados. De dezembro de 1961 a dezembro de 1962, o CPC do
Rio produziria as pecas
‘Eles não usam black-tie e ‘A vez da Recusa’; o fi lme
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‘Cinco Vezes favela’, a
coleção ‘Cadernos do povo’ e a série ‘Violão de Rua’.
Promoveria ainda cursos de
teatro, cinema, artes visuais e fi losofi a e a UNE–
volante, uma excursão que
por três meses percorreu todas as capitais do Brasil, para
travar contato com bases
universitárias, operárias e camponesas (HOLLANDA;
GONÇALVES, 1995, p.10).
É preciso registrar, no
entanto, que o projeto político-cultural dos jovens do
CPC tinha, de certa forma,
a anuência do governo federal. Isto porque era notória
a proposta
político-ideológica do CPC, no sentido da transformação estrutural do
sistema de governo do
Estado. E, ainda assim, o governo Goulart teve o respeito
pelo trabalho político
daqueles jovens e a grandeza de verdadeiro democrata, não os
reprimindo. Digo isto
porque o nosso país, ainda não inteiramente familiarizado com
o universo das práticas
democráticas, sempre derrapa, claudica nesses momentos.
Nesse aspecto, o governo
de João Goulart foi realmente uma exceção. Circulavam
as mais diversas
propostas, concepções e modelos políticos de Estado, sem que o
próprio Estado
interviesse. Aliás, ao contrário, surgiriam ainda outras instituições
da juventude estudantil.
Algumas entidades ligadas ao poder municipal ou estadual
com objetivos muito
semelhantes aos do CPC. Apenas como exemplo quero citar
o MCP – Movimento de
Cultura Popular, apoiado por Miguel Arraes, governador
de Pernambuco. Talvez o
aspecto mais marcante dessa entidade tenha sido mesmo
seu trabalho pedagógico.
Por intermédio do “Método Paulo Freire”, muito em voga
naquela época, os jovens
universitários do MCP se dedicavam a alfabetizar a periferia
pobre das cidades
pernambucanas.
Em meu livro, A cultura
político-musical brasileira4, analiso de modo mais
detalhado, o bem
intencionado trabalho do CPC junto aos operários, desempregados,
camponeses e favelados.
Foi um momento de grande importância, não só para o país,
mas também para a
experiência e a prática democrática daqueles jovens. Espero
não precisar me repetir,
mas considero imprescindível um breve comentário a esse
respeito. De lá para cá,
já se passaram 48 anos. Um espaço temporal sufi ciente para
que possamos pensar neste
tema, sem pendores político-ideológicos, acerca de um
acontecimento histórico
extremamente signifi cativo para a cultura da juventude
brasileira. Se, de uma
parte, a organização dos CPCs funcionava muito bem e ia de
fato ao encontro dos
desvalidos e dos baixos estratos da sociedade brasileira, por
outro lado, é preciso
pensar melhor nesse contato. O diálogo desses jovens com o
universo da “cultura da
pobreza” era quase sempre obliterado pela “norma culta”,
ou melhor, pela própria
diferença de cultura de classes. A comunicação entre ambas
era precária, apesar do
esforço dos jovens universitários em reinterpretar o cotidiano
4 Cf. CALDAS, 2005.
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da classe proletária. Era
muito difícil, como é até hoje, explicar aos trabalhadores,
na prática, que as
relações entre o capital e o trabalho no capitalismo se plasmam na
exploração de um pelo
outro, respectivamente. O jovem teatrólogo Oduvaldo Viana
Filho (Vianinha), bem que
tentou com sua peça A mais-valia vai acabar, seu Edgar
que, um pouco mais tarde,
em 1969, seria adaptada para o cinema também. Nessa
obra, o objetivo era
mostrar como se dão as relações de trabalho no capitalismo e
como ocorre a luta de
classes entre opressor e oprimido.
Por outro lado, não
podemos deixar de citar a importância transformadora e
revolucionária do
movimento da Contracultura. A experiência psicodélica e o fascínio
pelas drogas alucinógenas
marcaram profundamente a história e a vida dos jovens
rebeldes que integraram o
movimento da contracultura. Se, de uma parte e em alguns
momentos, o consumo
exacerbado dos alucinógenos signifi cava a recusa à ordem
estabelecida, e ao
universo do adulto, responsável, previsível e torpe, de outro lado,
toda a rebeldia, a
convicção e a busca de novos valores fi cariam na mediação entre a
realização e a dúvida. A
própria trajetória do movimento da contracultura nos mostra
que, em muitos casos, a
fatalidade antecipou-se à realização.
Assim, é preciso muita
cautela quando lemos justifi cativas para experiências
alucinógenas, argumentando
tratar-se de ensaios científi cos. Claro, é evidente que
como projeto intelectual
tem sentido. O problema não está aí, está, isto sim, na
banalização que se fará
dessa experiência e no impacto nada saudável sobre a nossa
juventude. As observações
de Theodor Roszak, além de pertinentes, são muito bemvindas.
Ao analisar as relações
dos jovens da contracultura com suas experiências
psicodélicas, o autor é
enfático:
[...] não há o menor ponto
em comum entre o fato de um homem com a experiência
e a disciplina intelectual
de Huxley experimentar mescalina e um menino de quinze
anos aspirar um solvente
sintético como cola de avião até seu cérebro esfacelar.
No primeiro caso temos uma
mente privilegiada buscando experientemente uma
síntese cultural; no
segundo, uma criança tonta buscando prazer na visão de
balõezinhos coloridos.
(ROSZAK, 1968, p.165).
Aqui temos um exemplo
claro da experiência psicodélica. Seus limites no
tocante aos ensaios
científi cos e ao consumo puro e simples, motivado quiçá pela
curiosidade, fascínio ou
dependência mesmo, formam dois universos inteiramente
diferentes.
Com efeito, há outros
limites não menos importantes a serem pensados. Refi rome
à ingerência das drogas
psicodélicas e os seus reais efeitos no comportamento
dos jovens. Não é verdade,
por exemplo, que as reações químicas no cérebro desses
60
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Caldas
Estudos
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adolescentes sempre lhes
transportem para um estado de paz, de sabedoria, de
quietude, enfi m, para um
estágio de nirvana. Se a droga tem sempre ação sensorial,
se ela aguça, exacerba os
sentidos, então haverá, enquanto permanecer seu efeito,
sensível alteração da
personalidade e de comportamento. Teremos, assim, aqueles
jovens adolescentes que se
sentirão alegres, fortes, poderosos e fi cam com a falsa
sensação de que podem
tudo. O efeito inverso também é verdadeiro. O jovem de
personalidade mais
recôndita e comportamento reservado tende naturalmente à
introspecção. Ele pode
concentrar-se em um único estágio de consciência. A afasia
e o olhar que nada observa
formam o perfi l do seu momento quimicamente alterado.
Nesse caso, entram em
discussão alguns aspectos que devem ser observados, como
a composição química da
droga psicodélica, sua densidade e quantidade usada.
Seja como for, os
resultados dessa experiência conduzem o ator a viver
momentos confusos,
interpretados por Sigmund Freud como “confl ito psíquico”, isto
é, oposições entre a
“pulsão de morte” e a “pulsão de vida”5. Em seu livro intitulado
Life
Against Death (Vida Contra Morte), Norman O. Brown (1972) prefere chamar
este estado psicológico de
a luta de Eros X Thanatos. De concreto, no entanto, é que
as pesquisas psicológicas
com as experiências dos jovens, pelo menos nos tempos da
contracultura, foram muito
pouco efi cientes. Os resultados a que chegou o professor
Alan Watts (2002), da
Universidade de Harvard, embora tenham mostrado acuidade
e rigor científi co,
chegaram até certo estágio, mas precisariam ter evoluído pelo
menos um pouco mais. O
problema é que não apareceu mais alguém disposto a dar
seqüência ao seu trabalho.
Em suas experiências, os alucinógenos deveriam trazer
à luz, à percepção do
pesquisador, os estágios desconhecidos da nossa consciência
ou, pelo menos, deles nos
aproximar. O próprio professor Watts (2002), porém,
reconhece não ter atingido
seus objetivos. Como resultado eles seriam fundamentais,
ainda que esses estágios
não fossem descobertos em sua totalidade. Eles poderiam
nos fornecer um feedback
capaz de interpretarmos as reações físicas e psicológicas
que os agentes químicos
artifi ciais podem causar no cérebro humano.
Assim, é compreensível,
como pesquisa científi ca, o uso responsável, bem
administrado e assistido,
do que nos reserva o universo psicodélico. Não foi isso, nem
poderia ser com esse
propósito, o que ocorreu com a juventude da contracultura nos
anos 60. Boa parte dessa
incrível geração mergulhou pateticamente no fantástico (ou
fantasmagórico?) mundo das
drogas, motivada pelo forte desejo de viver experiências
psicodélicas. O problema,
entretanto, não residia nessa prática, da mesma forma
5 O conceito freudiano de
“confl ito psíquico” ocorre quando, no indivíduo, opõem-se exigências internas
contrárias. Por exemplo,
se ele vive dois sentimentos contraditórios. Pode se traduzir ainda pela
formação
de sintomas, desordens do
comportamento, perturbações do caráter, etc. Entre as formas de “confl ito
psíquico”, a psicanálise
considera os confl itos entre a “pulsão de vida” e a “pulsão de morte” como um
dos mais perturbadores ao
homem. O livro de J. Laplanche e J. B. Pontalis (1970), Vocabulário da
psicanálise,
apresenta uma análise mais detalhada dos conceitos acima.
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como não ocorre em nossos
dias. Estava, isto sim, no fato de os jovens adolescentes
(mas adultos também)
usarem alucinógenos sem nenhum critério.
Certamente um dos grandes
problemas é justamente estabelecer essas medidas
e saber como
administrá-las ou, talvez até mesmo não se cogitar nada disso. E como
esperar regras, normas e
medidas daquela juventude? As drogas eram apenas um
instrumento de prazer
fugaz, de revolta dos adolescentes contra a ordem estabelecida
(alguns nem tinham essa
consciência), de uma sociedade corrompida, mercantilizada
pela exacerbação do
consumo. Nos Estados Unidos, por exemplo, berço de todo o
movimento da
contracultura, os jovens viviam uma insatisfação e um anseio vazio
que cedia espaço em suas
vidas para as experiências com drogas psicodélicas.
Se, de uma parte, não
havia critérios para o consumo desses alucinógenos, por
outro lado, não existia
(como ocorre ainda em nossos dias) o discernimento claro
entre o estágio do chamado
“fascínio compulsivo” e a “dependência consumada”. Até
porque a avaliação deste
último binômio permanece ainda muito fl uida e imprecisa.
E mais do que isso, o
conceito de “dependência química”, modernamente, ganhou
diversas outras
conotações, mas permanece em discussão pelos estudiosos. Ele não
passa apenas pelo que pode
revelar a pesquisa científi ca.
Entram em pauta agora,
especialmente, os interesses econômicos e sociais.
Algo semelhante, por
exemplo, à fabricação social da loucura, já tão discutida sob
vários ângulos na
literatura científi ca. Quero destacar, além dos estudos clássicos
de Sigmund Freud, outros
mais contemporâneos como os de David Cooper, Michel
Foucault e Ronald Laing,
que tratam exaustivamente deste tema. Seja como for,
boa parte dos jovens
rebeldes, não só nos Estados Unidos, mas do movimento da
contracultura em todo o
mundo, viveu o limiar entre o “fascínio compulsivo” e a
“dependência consumada”
que, de acordo com os estudos psiquiátricos, pode levar
o consumidor de drogas a
algum tipo de demência. Ou ainda, se apelarmos para o
conjunto de referências
teóricas da psicanálise, é como se tivessem que optar entre
um dos princípios
antagônicos, isto é, o “princípio de realidade” ou o “princípio de
prazer”.
Mas, simultaneamente a
todo esse universo do consumo do LSD, maconha,
anfetaminas, ácidos e
outros alucinógenos industriais ou caseiros (cogumelos, por
exemplo), havia um
comércio que ia ao encontro do estilo de vida que recusava
a ordem estabelecida. Refi
ro-me a toda uma literatura underground, que surge
nessa época na Califórnia
como, por exemplo, a revista Oracle (de 1966) e outros
semanários como Freedom,
de vida curta, mas muito intensa.
Mas, se, por um lado, esta
cultura jovem representava a recusa ao
establishment, à
exacerbação do consumo e a outras formas que tão bem tipifi cam
a sociedade de massa, de
outra parte, era fácil perceber contradições de base nessa
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vertente da contracultura,
que passaria a ser chamada de “cultura hippie”. É que havia
um comércio underground,
mas bem organizado, de produtos à venda, como em
qualquer loja de
departamentos da sociedade de consumo. A mercadoria destinada
a esse público especial,
em nada ou quase nada, identifi cava-se com a estética dos
produtos postos à venda no
comércio convencional. Mas, se esteticamente se buscava
uma certa originalidade (e
nesse aspecto a cultura hippie foi muito bem sucedida),
ainda assim permaneciam os
princípios básicos do capitalismo: a relação de troca
da mercadoria pelo capital
que resulta no lucro. Este é um dos fundamentos da
economia privada,
potencializado ao máximo na chamada sociedade de massa, tão
contestada pelos hippies.
Quando Theodore Roszak
analisa a função e o desempenho dos semanários
undergrounds
no comércio e na cultura hippie, temos a noção muito clara
das
contradições a que me refi
ro. Diz ele:
[...] os editoriais
transformaram as leis sobre narcóticos e as maneiras de burlar
as autoridades fi
scalizadoras no alfa e ômega da política. Entretanto, os anúncios
traem o fato de que as
publicações tornaram-se cada vez mais dependentes de
uma economia hip local,
cujas mercadorias, espetáculos luminosos, música
de rock, cartazes,
luzes eletrônicas, jóias, botões de lapela, guizos, colares de
contas, óculos para luz
negra, cachimbos para tóxicos e amplo sortimento de
‘equipamento mental’ –
destinam-se na maioria a ser percebidas através de uma
névoa narcótica, ou pelo
menos tentam de toda forma glamurizar as drogas,
aprofundando a fascinação
ou a necessidade (ROSZAK, 1968, p.167-168).
Como se pode perceber nas
palavras do autor, havia um comércio hippie
perfeitamente integrado à
economia de mercado. Pode-se dizer mesmo, uma
interdependência entre
comércio, publicidade e imprensa underground, representada
especialmente por jornais
e revistas que anunciavam e divulgavam os produtos
colocados à venda para o
público jovem dessa vertente da contracultura. Veríamos
que, no decorrer do tempo
e com o sucesso deste comércio atípico, chegariam os
comerciantes
convencionais, disponibilizando ao mercado hippie uma gama muito
grande de produtos para
esses jovens.
A partir desse momento, no
entanto, se houvesse de fato, um ethos comercial
(o termo soa estranho)
dessa cultura underground, ele estaria sendo sepultado ou,
quando menos, perdendo sua
identidade. Assim, se no início a grande maioria ou
até a totalidade dos produtos
à venda ia ao encontro da cultura hippie, a partir de
agora eles estariam
misturados a todos os objetos e pertences produzidos em escala
industrial. Dessa forma,
cristalizava-se aos poucos o fi m do comércio hippie, se
assim podemos chamar. É
preciso entender, no entanto, que este segmento da cultura
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underground
teria pouquíssimas chances (a rigor, nenhuma mesmo) de se manter
fi el aos seus princípios
não capitalistas. E, aqui, teoria e prática são inteiramente
convergentes.
1968: THE REVOLUTION REFERENCE
ABSTRACT: The year of 1968 has become,
throughout time, a kind of reference
to the
great transformations that occurred in the decades of 1960 and 1970. Some
time
before, however, in the 1950’s, in the US, a young movement appeared. They
were
known as the beat generation, which main representatives were Jack Kerouac,
Allen
Ginsberg, and others. It was a group of intellectual young men that brought,
through
the literature and art, a life style and different behavior from the pragmatic
and
commercialized universe of the American society.
Together
with the rock’n’roll, also from that moment, the youth had conditions
to
engender a big behavior revolution, that later was known as the movement of
counterculture,
of the hippies and of the psychedelic culture. From that moment on,
the bases
for all that would yet come in the 1960’s and 1970’s was launched. Those
decades
were revolutionary; a time when the youth did not prevaricated about the
right of
tracing its own destiny. The greatest goal was to insure what the man has
as a
precious gift: the freedom and the fi ght against the behavior asphyxia imposed
by the
establishment.
KEYWORDS: Counterculture. Politics.
Freedom. Society. State. Revolution.
Psychedelic.
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Recebido em outubro de
2008
Aprovado em dezembro de 2008
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