Pular para o conteúdo principal

TEMA: APROPRIAÇÃO CULTURAL. LEIA TUDO QUE CONSEGUIR.




PROPOSTA DE REDAÇÃO

Brancos, como a estudante paranaense que usou um turbante, são criticados por adotar tradições de grupos negros. A crítica ajuda a combater o racismo ou a aprofundá-lo?

FORÇA NA LEITURA! ANOTE IDEIAS, RESUMA ALGUMAS, ORGANIZE-AS ANTES DE PRODUZIR SEU TEXTO!

O “episódio do turbante”, como muitos chamaram [a discussão em torno do direito de a estudante branca Tahuane Cordeiro usar um turbante na cabeça], reacendeu o debate sobre apropriação cultural e tomou conta das redes sociais. A discussão, porém, não é nova. A polêmica gerada em torno desse fato aponta para uma tentativa de esvaziamento do assunto, que não pode ser atribuída ao mero acaso. Seria ingenuidade não considerar a possibilidade de que a condução do debate tenta atingir, de modo certeiro, o protagonismo e a autonomia de mulheres negras, que vêm se manifestando cada vez mais sobre sua história, sobre seus corpos e dizendo e exigindo o que querem.
Portanto, a responsabilidade que devemos ter ao tratar da apropriação cultural é imensa. Não podemos levar esse tema para a seara do “a favor ou contra”. Colocar a questão desse modo binário não amadurece em nada um debate que é fundamental.
Mas o que está no centro da questão? Até onde podemos acompanhar, nunca ouvi falar de apropriação sem que a essa ideia não esteja associada a relação de opressão. Posto isso, o que está no centro do debate é o racismo, ora!

Apenas a ideia de que o racismo é estrutural nos ajuda a compreender não só a questão da apropriação, mas também o porquê de o debate e sua condução limitarem-se ao “a favor ou contra” pessoas brancas usarem elementos da cultura negra. Isso é ficar no raso. Isso é diminuir a importância da questão racial e de suas consequências nefastas para a maioria da população brasileira. Isso é culpar as mulheres negras por apropriarem-se de sua etnia com orgulho. E nós não faremos isso, pois essa é mais uma armadilha do racismo.
Devemos abordar a questão da apropriação cultural na estrutura. Do ponto de vista comercial, podemos dizer que a apropriação acontece quando não se incorpora, em sua difusão, o grupo social que a gerou. Ou seja, o mercado quer aquele bem cultural, mas, antes de transformá-lo em um produto de consumo, ele o transforma, pasteuriza e impede que o grupo que o gerou participe dessa difusão. Sendo assim, o problema não está na difusão do produto cultural tradicional, em si, mas na eliminação da população negra, que criou a tradição, desse processo.
Um exemplo que eu sempre dou e que se aplica bem ao que falamos está nos desfiles das escolas de samba. Eu acompanho os desfiles de Carnaval desde menina. Adorava ir com minha mãe assistir às escolas na Presidente Vargas, no Rio de Janeiro. Cada família levava alguma coisa para comer e a gente fazia uma espécie de lanche comunitário. Isso era no tempo em que o samba não era visto com bons olhos. Com o passar dos anos, continuei acompanhando os desfiles e vi o protagonismo do Carnaval mudar. Fui vendo as Tias Baianas serem desconsideradas. Vi as meninas das comunidades serem preteridas por pessoas famosas ou por pessoas em busca da fama. É aí que falamos de apropriação. Ela ocorre quando aqueles que de fato fizeram o desfile são substituídos por pessoas que nada têm a ver com a produção simbólica da agremiação, por mera questão estética, midiática ou propriamente comercial. Questões essas sempre são pautadas pelo racismo.
Nesse momento da discussão, normalmente ouvimos o seguinte argumento: “Ah, mas como brasileiro tenho muito da cultura negra”. A troca cultural entre grupos sociais não é e nunca foi um problema. O problema está no fato de que os elementos simbólicos da cultura negra sempre são esvaziados de sua negritude. Essa é a questão! E eu chamo isso de racismo.
Nesse sentido, a apropriação cultural da identidade negra está na tentativa cruel de relativizar e diminuir, insistentemente, aquilo que nos proporciona a noção de pertencimento e identidade. Testemunhamos isso na tentativa de mudarem o nome do acarajé em plena Copa do Mundo. Nas recorrentes invasões de terreiros de candomblé e umbanda. Na desmoralização diária das religiões de matriz africana. Na pedrada intolerante que intentou punir a menina Kailane Campos por sua devoção a nossos orixás. [Em 2016, aos 11 anos, Kailane foi apedrejada na rua ao sair de um culto de candomblé, na Vila da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro.] Por tudo isso, a apropriação cultural é uma forma racista de dizer que isso ou aquilo não pode ser negro, mas brasileiro ou multicultural.
Portanto, a forma com que lidamos com esse tipo de polêmica quando ela surge deve se pautar pela responsabilidade. É perverso usar essas situações como argumento para diminuir a tomada de consciência de pessoas negras com relação a sua própria etnia, sobre uma sociedade que não se reconhece racista e, muito menos, admite o racismo incorporado em nossas instituições, sejam elas públicas ou privadas.
Nós devemos motivar a juventude, não permitindo que eventos como esses diminuam a importância de movimentos de mulheres jovens e negras que vêm denunciando o racismo, o machismo. Mulheres que vêm se orgulhando de sua cor, de seu cabelo. Que vêm reconhecendo inteligência e beleza em si mesmas.
As transformações sociais (entre elas o combate ao racismo) só são possíveis com ações. E eu acredito que essas ações têm como impulso a energia de jovens negros e negras, conscientes de sua etnia, de sua história, de sua ancestralidade e de seu papel na sociedade.
kàn ríran ju ojú l [tradução do iorubá: “O coração pode ver muito mais profundamente do que os olhos”].

Leci Brandão é cantora, compositora e deputada estadual (PCdoB-SP)

Parte da atual cultura universitária, entrincheirada nas “humanidades” e produzindo efeitos na esfera do “ativismo”, resolveu fazer uma dupla abolição. De uma parte, aboliu as classes sociais: agora, só existem sexo e etnia. De outra, no rastro de uma velha fantasia racista, aboliu os mestiços. E estes “abolicionistas” são autoritários, “fascistas de esquerda”: quem discorda da tese merece o fogo do inferno.

Isso aconteceu nos Estados Unidos, claro. Mas, graças ao capachismo mental de nosso sistema universitário, vai se reproduzindo no Brasil. Como se fosse possível substituir nossa experiência histórica e social pela experiência histórica e social dos americanos. É o ménage à trois do escapismo, da ignorância e da alienação colonizada.
A jovem filósofa Bruna Frascolla, tradutora de David Hume, foi direto ao assunto: “Tenho colegas que já andavam problematizando turbante porque nos Estados Unidos se problematiza turbante. A fórmula é a seguinte: sempre que vocês virem um jovem que se pretenda progressista afirmando alguma coisa digna do kkk (risada-padrão de deboche na internet) ou das mulheres de Aristófanes, isso vem de modismos acadêmicos dos Estados Unidos. São os estudos de questões sociais feitos em departamentos de literatura (sim!), sem qualquer compromisso com análise concreta e rigorosa de dados. Os ‘gender studies’, os ‘postcolonial studies’ e a caçula ‘queer theory’. Tudo consiste em pegar o antagonismo de classes do marxismo, a dinâmica opressor-oprimido, e transferir para etnia e sexo”.
No campo racial, eles dividem o mundo drasticamente entre brancos e pretos. (Os Estados Unidos são uma anomalia planetária: o único país do mundo que não reconhece a existência de mestiços.) Misturas são miragens, ilusões de ótica. Nesse apartheid, branco usa coisa de branco; preto, coisa de preto. “Brancos e negros, assim como homens e mulheres, são fundamentalmente diferentes e cabe ouvir o oprimido sem questioná-lo.” Todos no reino da filantropia ideológica, portanto.
Os Estados Unidos são uma nação de fraca capacidade integradora e alto poder destrutivo. Em sua obra Fenomenologia do brasileiro, Vilém Flusser, judeu nascido na Praga de Kafka, já falava da insularização local das etnias, que viria a produzir uma série compartimentada de nipo, ítalo ou afrodescendentes. Ao lado disso, o poder destrutivo. O exemplo clássico está no assassinato espiritual do africano nos Estados Unidos.
Sob a pressão do poder puritano branco, as religiões negras foram destruídas naquele país. Por isso, Martin Luther (Martinho Lutero, note-se) King foi um pastor protestante e não um babalaô, senhor das práticas divinatórias de Ifá. Se tivesse acontecido aqui e em Cuba o que aconteceu nos Estados Unidos e na Argentina, não teríamos um só orixá vivo, hoje, em toda a extensão continental das Américas.
Para dar outro exemplo, os sintagmas “black religious music” e “música religiosa negra” são linguisticamente equivalentes, mas culturalmente dessemelhantes. No primeiro caso, o que temos é o hinário protestante preto, recriação de salmos brancos. No segundo, a música sacra africana executada em nossos terreiros de candomblé, com alabês e atabaques. Lá, a destruição; entre nós, a sobrevivência. Com orixás celebrados com grande sucesso na cultura de massa. Por quê?
Porque aqui a mescla foi total. Não houve apenas o fato biológico da miscigenação, mas o reconhecimento social e cultural das misturas, que é o que define a mestiçagem. Durante séculos, nos Estados Unidos, a miscigenação foi uma prática fora da lei, inclusive com a proibição legal de casamentos interétnicos. E a mestiçagem nunca existiu. Nunca foi reconhecida como tal.
Outra coisa: mestiçagem não é sinônimo de harmonia. Tem uma forte carga de conflitos. Não se trata de idealizar nada. Mas é preciso entendê-la, ou não nos entenderemos jamais. Hoje, ao contrário, o que se quer é abolir o fenômeno. Tentar exorcizar as ambiguidades brasileiras e transformar o país num campo racial polarizado, à maneira dos Estados Unidos.
Além da mestiçagem, o sincretismo. Em horizonte histórico e em plano mais recente. As formas culturais de origem africana, por exemplo, se enraizaram em todas as instâncias da configuração cultural brasileira. É por isso que podemos dizer que, regra quase geral, mesmo os brancos brasileiros são mais africanos do que os negros americanos. E nossa mulataria é incontornável.
Cito o exemplo de Carlos Marighella, filho de uma preta malê e um branco italiano, que, na fase mais violenta de sua militância, apareceu como um anarcomilitarista que tinha fechado o corpo num terreiro de candomblé. A verdade é que nada do que chegou ao Brasil permaneceu “puro”. E essa baboseira de “apropriação cultural” é coisa de quem quer implantar apartheids em nossos trópicos, em vez de se lançar às marés das misturas e de seus signos nômades.

O Brasil não é um país multicultural. E nem tem como adotar a ideologia multiculturalista, com sua fantasia de isolar cada “comunidade” numa espécie qualquer de autismo antropológico. Em consequência de nossos processos histórico-culturais, o sincretismo é o traço central da dimensão simbólica de nossa existência. Temos, sim, a mestiçagem e o sincretismo, para além dos que querem agora nos obrigar a olhar o povo brasileiro pelas lentes americanas, com o horror puritano às misturas, a mixofobia anglo-
saxônica, que sempre teve nojo de negro.
Combater a mestiçagem é uma tolice. Combater o sincretismo é combater o que há de mais rico na vida, que são as trocas de experiências e de signos. Mais: toda crítica que tivermos, ao processo brasileiro, deve ser feita para enriquecê-lo. Mas agora vem a PPC – a Polícia do Politicamente Correto – para empobrecer tudo, na base do fascismo travestido de progressismo? Não dá. Não queiram nos convencer de que apartheid é sinônimo de democracia. Temos de deixar esses modismos de lado – e tratar de pensar o Brasil por nossa conta e risco.

Antonio Risério é antropólogo, poeta e romancista, autor de livros como A utopia brasileira e os movimentos negros e A cidade.
http://epoca.globo.com/cultura/noticia/2017/03/e-baboseira-querer-isolar-comunidades-diz-antonio-riserio.html

O capitalismo como um modo societário que transforma tudo em mercadoria, desde artigos culturais até mesmo relações, encontra diversas formas de se reelaborar e se expandir durante a história. Nos seus momentos de crise, os capitalistas se agarram até mesmo em coisas que antes lhe eram exóticas e marginais, na tentativa de capitalizar e manter a estrutura de relações às quais vivemos hoje.
Um caso que não foi muito discutido recentemente na internet, mas que ilustra bem esse argumento é o do casal de brasileiros que fatura R$ 550 mil com a venda de artigos indígenas produzidos pelas etnias Krahô, Kayapó, Mehinako, Yawalapiti e Xavantes, em Nova York. Nesse caso, apesar de afirmarem reverter os lucros às tribos, pagam para seus “colaboradores” apenas R$ 500 por mês.
O que fica evidente ao observar esse caso é que o que chamamos de apropriação cultural, na verdade é a circulação desses artigos pela indústria mercadológica do capitalismo que se configura de várias formas. Lojas bem intencionadas que vendem esses conhecidos símbolos de resistência os transformam em objetos estéticos, apagando seu significado histórico. Mas, a culpa desse fato seria dos indivíduos que acessam esses artigos, ou desses sistemas que capitalizam as produções culturais? Se o capitalismo hoje permite que troquemos informações com pessoas do Japão através da internet, não seria ele o culpado pela apropriação cultural?
Entender essa problemática em uma visão cartesiana, ou seja, mecânica e dualista, em minha compreensão, nos distancia de um entendimento amplo sobre a apropriação cultural. O capitalismo enquanto um sistema global nos permite o contato com culturas de diversos locais do mundo e seu constante intercâmbio.
No Brasil, encontramos diversos restaurantes de comida chinesa e japonesa, comidas de nosso dia a dia que têm origem e influência de povos africanos, tais como o acarajé e feijoada. Temos também exemplos no mundo estético, além dos supracitados turbantes e tecidos africanos, temos as calças jeans, criação norte americana muito utilizada pelas pessoas brasileiras. Em resumo, uma infinidade de artigos que são integrantes de outras culturas e que perpassam o nosso dia a dia satisfazem nossas necessidades em vários aspectos e nos dão a possibilidade de conhecer outros espaços, mesmo sem tê-los percorrido.
Esse constante compartilhamento de elementos culturais são socializados, mas no capitalismo são apropriados pelo mercado para serem acessíveis apenas a quem pode pagar. Não se compra um turbante esteticamente bonito sem ter dinheiro para isso. Tecidos africanos cada vez mais estão em moda. Todo esse processo de circulação desses artigos convertidos em mercadorias se tornam acessíveis para pessoas pela mediação do dinheiro, ou lhe são inacessíveis pela falta dele.
Essa estrutura de poder que perpassa as relações raciais no capitalismo encontra diversas nuances. Já que elementos culturais encontram-se socializados em todo o mundo e que o mercado os deixa acessíveis apenas a quem tem como pagar, a reivindicação em cima da apropriação cultural na verdade se trata, como afirmou Valter Magnaroli, em 2015, de uma reivindicação por exclusividade de consumo.
A pessoa branca que utiliza o lenço na cabeça não é culpada pelo racismo que se propaga e pela constante expropriação dos bens culturais do povo negro. A condenação de outras pessoas em utilização de artigos árabes, indígenas, negros, ou outros, na verdade individualiza um problema que tem relação direta com o racismo estrutural.
Uma jovem branca ser repudiada por usar turbante e um casal branco enriquecer às custas de artigos indígenas são bem diferentes. No primeiro caso, é preciso perceber que quando falamos de apropriação, na verdade estamos pensando em socialização e isso é um elemento importante para a resistência negra.
Fazer com que o sujeitos não pretos vejam em artigos da cultura oriental, africana e afro-brasileira elementos de resistência e luta é fundamental para uma reeducação de toda uma sociedade que reproduz práticas racistas. No segundo caso, quando se fala em apropriação, se fala em expropriação, ou seja, a produção de artigos feitos por indígenas, que é levada ao exterior e vendida para lucro de empresários brancos. Nesse sentido, apropriação é um conceito problemático que precisa ser contextualizado para não emitirmos opiniões de culpabilização apenas dos indivíduos, mas direcionarmos nossa prática para quem realmente sustenta essa lógica: as estruturas racistas do capitalismo.
É importante lembrar que parte da luta do movimento negro diz respeito da Lei 10.639, que ressalta a importância da cultura negra ser trabalhada nas escolas. Ora, na escola vamos escolher apenas os indivíduos negros para abordar questões raciais, ou é necessário que abordemos essas questões com todas as pessoas da comunidade escolar, sejam brancas ou negras, para o enfrentamento e desconstrução dos preconceitos pela educação? Reconhecer a beleza de nossa cultura passa longe de ser uma abordagem racista. O racismo é um ato de ódio, genocida, muito bem praticado pelos órgãos oficiais do Estado como a polícia  – grande parte composta por pessoas negras, diga-se de passagem.
Nesse sentido, retomando a pergunta inicial: Usar turbante sendo uma pessoa branca é um problema para a luta contra o racismo? Acredito que não, assim como também ter acesso a elementos dessa cultura de maneira a respeitá-la e contribuir com sua resistência. Temos diversos casos passíveis de problematização, como a expropriação histórica de nossos bens sociais pela burguesia branca. Porém, não será recriminando uma jovem por seu uso de turbante que iremos trazer uma outra ideia de sociedade livre do preconceito racial e, principalmente, livre dessa lógica mercadológica que individualiza e atomiza uma luta que deve ser de todas as pessoas. http://esquerdaonline.com.br/2017/02/13/para-alem-da-aparencia-apropriacao-cultural-no-capitalismo/
Esse tipo de postura da militância de esquerda/negra não mascara apenas o racismo, mas também a enorme ignorância de quem defende esse tipo de coisa. Os turbantes foram criados muito provavelmente pelos mesopotâmicos e foram utilizados por diversos povos diferentes pelos séculos. Persas, árabes, judeus, hindus, indianos, gregos, povos das Américas, todos usaram turbantes de várias maneiras e bem antes da era cristã. O turbante, inclusive, já foi símbolo de status social e poder econômico e político em alguns povos, inclusive africanos. Aliás, esse também é o caso das tranças e dreadlocks.
Turbantes também já foram utilizados por pintores e artistas para proteger os cabelos das tintas e pó de mármore, fizeram parte da indumentária de homens e mulheres europeus durante o período medieval, foram utilizados por Maria Antonieta como peça de moda, e, finalmente, renasceram quando Paris já era considerada a capital mundial da moda no século XX com o estilista frânces Paul Poiret na década de 20. Turbantes também foram muito utilizados pelas mulheres europeias durante a II Guerra Mundial para esconder os cabelos mal cuidados devido às condições de vida precárias da época.
No Brasil, ao contrário do que se possa pensar, o turbante chegou com os primeiros europeus que vieram desbravar o território, não com os negros africanos. Há relatos de que viraram moda no país com a chegada da família real, em 1808, visto que a rainha Carlota Joaquina e outras damas da corte desembarcaram usando turbantes para disfarçar a peste de piolhos que acometeu os tripulantes durante a viagem.
Se levarmos ao pé da letra a ladainha de “apropriação” cultural, então coisas como calça jeans, aviões, eletricidade, penicilina, pasteurização, antibióticos e ressonância magnética não devem ser utilizados por qualquer um que não seja homem, ocidental e branco, já que são fruto do trabalho árduo de homens brancos. O mesmo vale para o famoso iPhone, acessório desenvolvido por Steve Jobs, um americano branco, o smartphone favorito dos justiceiros sociais para escrever textões no Facebook sobre opressão.
Se alguém está fazendo algum tipo de “apropriação cultural” são os próprios militantes do movimento negro ao tentar transformar uma peça utilizada por diversos povos ao longo dos séculos em algo exclusivo de um grupo étnico “oprimido” e símbolo de luta. http://www.ilisp.org/artigos/por-que-o-conceito-de-apropriacao-cultural-nao-passa-de-racismo-e-ignorancia/
Se cada cultura ficar em seu quadrado, não sobrará aos negros, ainda mais aos brasileiros, muito além de cantar funk (mas rebatizem a parada) e negociar escravas sexuais tomadas de outras tribos, que por ventura poderão ser vendidas a algum espertalhão eurodescendente. É exatamente isso o máximo que a esquerda tem a oferecer aos oprimidos hoje em dia. Se os racistas da segregação racial exigiam que negros ficassem de pé no fundo do ônibus, os racistas negros da apropriação cultural exigirão que os negros… fiquem sem ônibus.
A estupidez é tão estúpida que ultrapassa as raias de qualquer ridículo anteriormente proposto por comunistas e progressistas para explicar o mundo, até a propaganda anti-colonial (que crê até hoje ser terrível que a Inglaterra tenha dado suas maravilhosas leis a quem resolvia conflitos tribais no tacape antes delas) ou o estupidíssimo “multiculturalismo”, pronto para transformar várias culturas em uma única, em nome da “variedade”: como não notar a incongruência de acusar alguém de “apropriação cultural” e defender o multiculturalismo na linha seguinte? E quer apostar quanto que os racistas 2.0, de fibra óptica em mãos, acham racista o veto de imigração a países muçulmanos que querem islamizar a América? A capacidade de extrair uma conclusão coerente de duas premissas básicas evaporou-se de mimizentos de 140 caracteres.
O desespero com um grito incongruente, a ser repetido por modistas abobalhados incapazes de trabalhar dois bites de informação no cerebrinho, é confessado pela preocupação gritante com brancos que usam turbantes (uma invenção persa, definitivamente imperdível para a humanidade  como vamos viver sem essa merda?). Por que os patrulheiros e guerrilheiros da justiça social não gritam contra “apropriação cultural” quando brancos admiram Machado de Assis, Thomas Sowell, Cruz e Souza, Santo Agostinho, Lima Barreto, Walter Williams, Gonçalves Dias, Derek Walcott? Será que esse negócio de ler é muito “branco” para a mimimisofera de plantão? http://sensoincomum.org/2017/02/13/brancos-negros-apropriacao-cultural















Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

TEMA DE REDAÇÃO: O MEDO

Proposta com base para a reflexão. Serve para treino da Fuvest. A violência marca presença no mundo contemporâneo. Por isso, vamos nos tornando indivíduos assustados e, possivelmente, bem mais, que nossos avós e bisavós. Nosso medo também tem causa nos atentados terroristas, problemas ecológicos; epidemias e outras mazelas. Medo de amar; medo de não amar, medo da solidão e da multidão.  O que é o medo para você? Um sentimento que nos protege, ou, um impedimento para avançar em direção a uma vida mais intensa? Um exagero forjado por pessoas apocalípticas ? Escreva um texto argumentativo em que analise o medo, em âmbito mais geral e, depois, fazendo um recorte temático para a contemporaneidade. .......................................................................................................... ATENÇÃO 1 NÃO SE ESQUEÇAM DE QUE É PRECISO ELABORAR SUA TESE. 2 ESCOLHI TEXTOS LONGOS, NÃO OS EDITEI PARA LHES DAR UMA BASE MAIOR SOBRE O ASSUNTO. ......................

Proposta de redação, estilo Fuvest. Tema: solidão

ROPOSTA ELABORADA POR MIM, ROSE MARINHO PRADO, PROFESSORA DE REDAÇÃO. AULAS? AINDA TENHO ALGUMAS JANELAS DE AULA PARTICULAR ( UM ALUNO). MAS GASTE POUCO EM AULAS DE DOIS EM DOIS. PAGUE AULA INDIVIDUAL E DIVIDA COM ALGUÉM QUE TENHA O MESMO NÍVEL DE DIFICULDADE. EU CONSIGO O ALUNO PARA COMPARTILHAR O VALOR E O SABER. PRIMEIRA AULA GRÁTIS.  FALEM POR AQUI, VEJAM AVALIAÇÕES DE EX-ALUNOS .https://www.facebook.com/pg/aula.de.redacao.online/reviews/?ref=page_internal E para quem quer reciclagem gramatical, aqui, no Youtube, aula gratuita.  https://www.youtube.com/watch?v=A4IF_FXvjgw&t=4s vamos à leitura???? Atenção! Minhas propostas de redação são longas, porque quero formular uma base para a reflexão. Pois nem todos os alunos apresentam repertório cultural pronto para fazer uma redação, digamos, estilo Fuvest. Por isso, peço que leiam tudo o que o seu tempo permitir. Anotem ideias, autores (nada de decorar frases, só se houver tempo. Citem...

Proposta de redação. Vida Urbana

Esta proposta é da GV, do Rio. Muito boa! "O AR DA CIDADE liberta", diz um conhecido provérbio alemão do fim da Idade Média. Depois, no início do século 20, pensadores como Georg Simmel e Walter Benjamin mostraram como a grande cidade, lugar impessoal da massa, é, paradoxalmente, o lugar da individualidade. Pois, no contexto de comunidades pequenas, a liberdade individual está sempre tolhida pelo olhar e o julgamento do vizinho. Já na cidade grande, ao contrário, o sujeito é anônimo na multidão, por isso está livre para ser ele mesmo, isto é, ser outro, aquilo que não se esperaria dele. A mistura de classes sociais, culturas, línguas, etnias e religiões que se dá na cidade é o melhor antídoto que inventamos até hoje contra a intolerância e os fundamentalismos. Filha e irmã da imigração, a cidade quebra os laços estamentais e a mentalidade paroquial dos clãs, colocando as pessoas em relação imanente e horizontal: moeda, comércio, indivíduo, democracia. O mercado, porém, n...