PROPOSTA DE REDAÇÃO
Brancos, como a estudante paranaense que usou um turbante, são criticados por adotar tradições de grupos negros. A crítica ajuda a combater o racismo ou a aprofundá-lo?
FORÇA NA LEITURA! ANOTE IDEIAS, RESUMA ALGUMAS, ORGANIZE-AS ANTES DE PRODUZIR SEU TEXTO!
O “episódio do turbante”, como muitos chamaram [a
discussão em torno do direito de a estudante branca Tahuane Cordeiro usar um
turbante na cabeça], reacendeu o debate sobre apropriação cultural e tomou
conta das redes sociais. A discussão, porém, não é nova. A polêmica gerada em
torno desse fato aponta para uma tentativa de esvaziamento do assunto, que não
pode ser atribuída ao mero acaso. Seria ingenuidade não considerar a
possibilidade de que a condução do debate tenta atingir, de modo certeiro, o
protagonismo e a autonomia de mulheres negras, que vêm se manifestando cada vez
mais sobre sua história, sobre seus corpos e dizendo e exigindo o que querem.
Portanto, a responsabilidade que devemos ter ao
tratar da apropriação cultural é imensa. Não podemos levar esse tema para a
seara do “a favor ou contra”. Colocar a questão desse modo binário não
amadurece em nada um debate que é fundamental.
Mas o que está no centro da questão? Até onde
podemos acompanhar, nunca ouvi falar de apropriação sem que a essa ideia não
esteja associada a relação de opressão. Posto isso, o que está no centro do
debate é o racismo, ora!
Apenas a ideia de que o racismo é estrutural nos
ajuda a compreender não só a questão da apropriação, mas também o porquê de o
debate e sua condução limitarem-se ao “a favor ou contra” pessoas brancas
usarem elementos da cultura negra. Isso é ficar no raso. Isso é diminuir a
importância da questão racial e de suas consequências nefastas para a maioria
da população brasileira. Isso é culpar as mulheres negras por apropriarem-se de
sua etnia com orgulho. E nós não faremos isso, pois essa é mais uma armadilha do
racismo.
Devemos abordar a questão da apropriação cultural
na estrutura. Do ponto de vista comercial, podemos dizer que a apropriação
acontece quando não se incorpora, em sua difusão, o grupo social que a gerou.
Ou seja, o mercado quer aquele bem cultural, mas, antes de transformá-lo em um
produto de consumo, ele o transforma, pasteuriza e impede que o grupo que o
gerou participe dessa difusão. Sendo assim, o problema não está na difusão do
produto cultural tradicional, em si, mas na eliminação da população negra, que
criou a tradição, desse processo.
Um exemplo que eu sempre dou e que se aplica bem ao
que falamos está nos desfiles das escolas de samba. Eu acompanho os desfiles de
Carnaval desde menina. Adorava ir com minha mãe assistir às escolas na Presidente
Vargas, no Rio de Janeiro. Cada família levava alguma coisa para comer e a
gente fazia uma espécie de lanche comunitário. Isso era no tempo em que o samba
não era visto com bons olhos. Com o passar dos anos, continuei acompanhando os
desfiles e vi o protagonismo do Carnaval mudar. Fui vendo as Tias Baianas serem
desconsideradas. Vi as meninas das comunidades serem preteridas por pessoas
famosas ou por pessoas em busca da fama. É aí que falamos de apropriação. Ela
ocorre quando aqueles que de fato fizeram o desfile são substituídos por
pessoas que nada têm a ver com a produção simbólica da agremiação, por mera
questão estética, midiática ou propriamente comercial. Questões essas sempre
são pautadas pelo racismo.
Nesse momento da discussão, normalmente ouvimos o
seguinte argumento: “Ah, mas como brasileiro tenho muito da cultura negra”. A
troca cultural entre grupos sociais não é e nunca foi um problema. O problema
está no fato de que os elementos simbólicos da cultura negra sempre são
esvaziados de sua negritude. Essa é a questão! E eu chamo isso de racismo.
Nesse sentido, a apropriação cultural da identidade
negra está na tentativa cruel de relativizar e diminuir, insistentemente,
aquilo que nos proporciona a noção de pertencimento e identidade. Testemunhamos
isso na tentativa de mudarem o nome do acarajé em plena Copa do Mundo. Nas
recorrentes invasões de terreiros de candomblé e umbanda. Na desmoralização
diária das religiões de matriz africana. Na pedrada intolerante que intentou
punir a menina Kailane Campos por sua devoção a nossos orixás. [Em 2016, aos 11
anos, Kailane foi apedrejada na rua ao sair de um culto de candomblé, na Vila
da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro.] Por tudo isso, a apropriação cultural é
uma forma racista de dizer que isso ou aquilo não pode ser negro, mas
brasileiro ou multicultural.
Portanto, a forma com que lidamos com esse tipo de
polêmica quando ela surge deve se pautar pela responsabilidade. É perverso usar
essas situações como argumento para diminuir a tomada de consciência de pessoas
negras com relação a sua própria etnia, sobre uma sociedade que não se
reconhece racista e, muito menos, admite o racismo incorporado em nossas
instituições, sejam elas públicas ou privadas.
Nós devemos motivar a juventude, não permitindo que
eventos como esses diminuam a importância de movimentos de mulheres jovens e
negras que vêm denunciando o racismo, o machismo. Mulheres que vêm se
orgulhando de sua cor, de seu cabelo. Que vêm reconhecendo inteligência e
beleza em si mesmas.
As transformações sociais (entre elas o combate ao
racismo) só são possíveis com ações. E eu acredito que essas ações têm como
impulso a energia de jovens negros e negras, conscientes de sua etnia, de sua
história, de sua ancestralidade e de seu papel na sociedade.
Ọkàn
ríran ju ojú lọ [tradução
do iorubá: “O coração pode ver muito mais profundamente do que os olhos”].
Leci Brandão é cantora, compositora e deputada estadual (PCdoB-SP)
Leci Brandão é cantora, compositora e deputada estadual (PCdoB-SP)
Parte da atual cultura universitária,
entrincheirada nas “humanidades” e produzindo efeitos na esfera do “ativismo”,
resolveu fazer uma dupla abolição. De uma parte, aboliu as classes sociais:
agora, só existem sexo e etnia. De outra, no rastro de uma velha fantasia
racista, aboliu os mestiços. E estes “abolicionistas” são autoritários,
“fascistas de esquerda”: quem discorda da tese merece o fogo do inferno.
Isso aconteceu nos Estados Unidos, claro. Mas, graças ao capachismo mental de nosso sistema universitário, vai se reproduzindo no Brasil. Como se fosse possível substituir nossa experiência histórica e social pela experiência histórica e social dos americanos. É o ménage à trois do escapismo, da ignorância e da alienação colonizada.
Isso aconteceu nos Estados Unidos, claro. Mas, graças ao capachismo mental de nosso sistema universitário, vai se reproduzindo no Brasil. Como se fosse possível substituir nossa experiência histórica e social pela experiência histórica e social dos americanos. É o ménage à trois do escapismo, da ignorância e da alienação colonizada.
A jovem filósofa Bruna Frascolla, tradutora de
David Hume, foi direto ao assunto: “Tenho colegas que já andavam
problematizando turbante porque nos Estados Unidos se problematiza turbante. A
fórmula é a seguinte: sempre que vocês virem um jovem que se pretenda
progressista afirmando alguma coisa digna do kkk (risada-padrão de
deboche na internet) ou das mulheres de Aristófanes, isso vem de
modismos acadêmicos dos Estados Unidos. São os estudos de questões sociais
feitos em departamentos de literatura (sim!), sem qualquer compromisso com
análise concreta e rigorosa de dados. Os ‘gender studies’, os ‘postcolonial
studies’ e a caçula ‘queer theory’. Tudo consiste em pegar o antagonismo de
classes do marxismo, a dinâmica opressor-oprimido, e transferir para etnia e
sexo”.
No campo racial, eles dividem o mundo drasticamente
entre brancos e pretos. (Os Estados Unidos são uma anomalia planetária: o único
país do mundo que não reconhece a existência de mestiços.) Misturas são
miragens, ilusões de ótica. Nesse apartheid, branco usa coisa de branco; preto,
coisa de preto. “Brancos e negros, assim como homens e mulheres, são
fundamentalmente diferentes e cabe ouvir o oprimido sem questioná-lo.” Todos no
reino da filantropia ideológica, portanto.
Os Estados Unidos são uma nação de fraca capacidade
integradora e alto poder destrutivo. Em sua obra Fenomenologia do
brasileiro, Vilém Flusser, judeu nascido na Praga de Kafka, já falava da
insularização local das etnias, que viria a produzir uma série compartimentada
de nipo, ítalo ou afrodescendentes. Ao lado disso, o poder destrutivo. O
exemplo clássico está no assassinato espiritual do africano nos Estados Unidos.
Sob a pressão do poder puritano branco, as
religiões negras foram destruídas naquele país. Por isso, Martin Luther
(Martinho Lutero, note-se) King foi um pastor protestante e não um babalaô,
senhor das práticas divinatórias de Ifá. Se tivesse acontecido aqui e em Cuba o
que aconteceu nos Estados Unidos e na Argentina, não teríamos um só orixá vivo,
hoje, em toda a extensão continental das Américas.
Para dar outro exemplo, os sintagmas “black
religious music” e “música religiosa negra” são linguisticamente equivalentes,
mas culturalmente dessemelhantes. No primeiro caso, o que temos é o hinário
protestante preto, recriação de salmos brancos. No segundo, a música sacra
africana executada em nossos terreiros de candomblé, com alabês e atabaques.
Lá, a destruição; entre nós, a sobrevivência. Com orixás celebrados com grande
sucesso na cultura de massa. Por quê?
Porque aqui a mescla foi total. Não houve apenas o
fato biológico da miscigenação, mas o reconhecimento social e cultural das
misturas, que é o que define a mestiçagem. Durante séculos, nos Estados Unidos,
a miscigenação foi uma prática fora da lei, inclusive com a proibição legal de
casamentos interétnicos. E a mestiçagem nunca existiu. Nunca foi reconhecida
como tal.
Outra coisa: mestiçagem não é sinônimo de harmonia.
Tem uma forte carga de conflitos. Não se trata de idealizar nada. Mas é preciso
entendê-la, ou não nos entenderemos jamais. Hoje, ao contrário, o que se quer é
abolir o fenômeno. Tentar exorcizar as ambiguidades brasileiras e transformar o
país num campo racial polarizado, à maneira dos Estados Unidos.
Além da mestiçagem, o sincretismo. Em horizonte
histórico e em plano mais recente. As formas culturais de origem africana, por
exemplo, se enraizaram em todas as instâncias da configuração cultural
brasileira. É por isso que podemos dizer que, regra quase geral, mesmo os
brancos brasileiros são mais africanos do que os negros americanos. E nossa
mulataria é incontornável.
Cito o exemplo de Carlos Marighella, filho de uma
preta malê e um branco italiano, que, na fase mais violenta de sua militância,
apareceu como um anarcomilitarista que tinha fechado o corpo num terreiro de
candomblé. A verdade é que nada do que chegou ao Brasil permaneceu “puro”. E
essa baboseira de “apropriação cultural” é coisa de quem quer implantar
apartheids em nossos trópicos, em vez de se lançar às marés das misturas e de
seus signos nômades.
O Brasil não é um país multicultural. E nem tem
como adotar a ideologia multiculturalista, com sua fantasia de isolar cada
“comunidade” numa espécie qualquer de autismo antropológico. Em consequência de
nossos processos histórico-culturais, o sincretismo é o traço central da dimensão
simbólica de nossa existência. Temos, sim, a mestiçagem e o sincretismo, para
além dos que querem agora nos obrigar a olhar o povo brasileiro pelas lentes
americanas, com o horror puritano às misturas, a mixofobia anglo-
saxônica, que sempre teve nojo de negro.
saxônica, que sempre teve nojo de negro.
Combater a mestiçagem é uma tolice. Combater o
sincretismo é combater o que há de mais rico na vida, que são as trocas de
experiências e de signos. Mais: toda crítica que tivermos, ao processo
brasileiro, deve ser feita para enriquecê-lo. Mas agora vem a PPC – a Polícia
do Politicamente Correto – para empobrecer tudo, na base do fascismo travestido
de progressismo? Não dá. Não queiram nos convencer de que apartheid é sinônimo
de democracia. Temos de deixar esses modismos de lado – e tratar de pensar o
Brasil por nossa conta e risco.
Antonio Risério é antropólogo, poeta e romancista, autor de livros como A utopia brasileira e os movimentos negros e A cidade. http://epoca.globo.com/cultura/noticia/2017/03/e-baboseira-querer-isolar-comunidades-diz-antonio-riserio.html
Antonio Risério é antropólogo, poeta e romancista, autor de livros como A utopia brasileira e os movimentos negros e A cidade. http://epoca.globo.com/cultura/noticia/2017/03/e-baboseira-querer-isolar-comunidades-diz-antonio-riserio.html
O capitalismo como um modo societário que transforma tudo em
mercadoria, desde artigos culturais até mesmo relações, encontra diversas
formas de se reelaborar e se expandir durante a história. Nos seus momentos de
crise, os capitalistas se agarram até mesmo em coisas que antes lhe eram
exóticas e marginais, na tentativa de capitalizar e manter a estrutura de
relações às quais vivemos hoje.
Um caso que não foi muito discutido
recentemente na internet, mas que ilustra bem esse argumento é o do casal de
brasileiros que fatura R$ 550 mil com a venda de artigos indígenas produzidos
pelas etnias Krahô, Kayapó, Mehinako, Yawalapiti e Xavantes, em Nova York.
Nesse caso, apesar de afirmarem reverter os lucros às tribos, pagam para seus
“colaboradores” apenas R$ 500 por mês.
O que fica evidente ao observar esse caso
é que o que chamamos de apropriação cultural, na verdade é a circulação desses
artigos pela indústria mercadológica do capitalismo que se configura de várias
formas. Lojas bem intencionadas que vendem esses conhecidos símbolos de
resistência os transformam em objetos estéticos, apagando seu significado
histórico. Mas, a culpa desse fato seria dos indivíduos que acessam esses
artigos, ou desses sistemas que capitalizam as produções culturais? Se o
capitalismo hoje permite que troquemos informações com pessoas do Japão através
da internet, não seria ele o culpado pela apropriação cultural?
Entender essa problemática em uma visão
cartesiana, ou seja, mecânica e dualista, em minha compreensão, nos distancia
de um entendimento amplo sobre a apropriação cultural. O capitalismo enquanto
um sistema global nos permite o contato com culturas de diversos locais do
mundo e seu constante intercâmbio.
No Brasil, encontramos diversos
restaurantes de comida chinesa e japonesa, comidas de nosso dia a dia que têm
origem e influência de povos africanos, tais como o acarajé e feijoada. Temos
também exemplos no mundo estético, além dos supracitados turbantes e tecidos
africanos, temos as calças jeans, criação norte americana muito utilizada pelas
pessoas brasileiras. Em resumo, uma infinidade de artigos que são integrantes de
outras culturas e que perpassam o nosso dia a dia satisfazem nossas
necessidades em vários aspectos e nos dão a possibilidade de conhecer outros
espaços, mesmo sem tê-los percorrido.
Esse constante compartilhamento de
elementos culturais são socializados, mas no capitalismo são apropriados pelo
mercado para serem acessíveis apenas a quem pode pagar. Não se compra um
turbante esteticamente bonito sem ter dinheiro para isso. Tecidos africanos
cada vez mais estão em moda. Todo esse processo de circulação desses artigos
convertidos em mercadorias se tornam acessíveis para pessoas pela mediação do
dinheiro, ou lhe são inacessíveis pela falta dele.
Essa estrutura de poder que perpassa as
relações raciais no capitalismo encontra diversas nuances. Já que elementos
culturais encontram-se socializados em todo o mundo e que o mercado os deixa
acessíveis apenas a quem tem como pagar, a reivindicação em cima da apropriação
cultural na verdade se trata, como afirmou Valter Magnaroli, em 2015, de uma
reivindicação por exclusividade de consumo.
A pessoa branca que utiliza o lenço na
cabeça não é culpada pelo racismo que se propaga e pela constante expropriação
dos bens culturais do povo negro. A condenação de outras pessoas em utilização
de artigos árabes, indígenas, negros, ou outros, na verdade individualiza um
problema que tem relação direta com o racismo estrutural.
Uma jovem branca ser repudiada por usar
turbante e um casal branco enriquecer às custas de artigos indígenas são bem
diferentes. No primeiro caso, é preciso perceber que quando falamos de
apropriação, na verdade estamos pensando em socialização e isso é um elemento
importante para a resistência negra.
Fazer com que o sujeitos não pretos vejam
em artigos da cultura oriental, africana e afro-brasileira elementos de
resistência e luta é fundamental para uma reeducação de toda uma sociedade que
reproduz práticas racistas. No segundo caso, quando se fala em apropriação, se
fala em expropriação, ou seja, a produção de artigos feitos por indígenas, que
é levada ao exterior e vendida para lucro de empresários brancos. Nesse
sentido, apropriação é um conceito problemático que precisa ser contextualizado
para não emitirmos opiniões de culpabilização apenas dos indivíduos, mas
direcionarmos nossa prática para quem realmente sustenta essa lógica: as
estruturas racistas do capitalismo.
É importante lembrar que parte da luta do
movimento negro diz respeito da Lei 10.639, que ressalta a importância da
cultura negra ser trabalhada nas escolas. Ora, na escola vamos escolher apenas
os indivíduos negros para abordar questões raciais, ou é necessário que
abordemos essas questões com todas as pessoas da comunidade escolar, sejam
brancas ou negras, para o enfrentamento e desconstrução dos preconceitos pela
educação? Reconhecer a beleza de nossa cultura passa longe de ser uma abordagem
racista. O racismo é um ato de ódio, genocida, muito bem praticado pelos órgãos
oficiais do Estado como a polícia – grande parte composta por pessoas
negras, diga-se de passagem.
Nesse sentido, retomando a pergunta
inicial: Usar turbante sendo uma pessoa branca é um problema para a luta contra
o racismo? Acredito que não, assim como também ter acesso a elementos dessa
cultura de maneira a respeitá-la e contribuir com sua resistência. Temos
diversos casos passíveis de problematização, como a expropriação histórica de
nossos bens sociais pela burguesia branca. Porém, não será recriminando uma
jovem por seu uso de turbante que iremos trazer uma outra ideia de sociedade
livre do preconceito racial e, principalmente, livre dessa lógica mercadológica
que individualiza e atomiza uma luta que deve ser de todas as pessoas. http://esquerdaonline.com.br/2017/02/13/para-alem-da-aparencia-apropriacao-cultural-no-capitalismo/
Esse tipo de postura da militância de esquerda/negra não mascara
apenas o racismo, mas também a enorme ignorância de quem defende esse tipo de
coisa. Os turbantes foram criados muito provavelmente pelos mesopotâmicos
e foram utilizados por diversos povos diferentes pelos séculos.
Persas, árabes, judeus, hindus, indianos, gregos, povos das Américas, todos
usaram turbantes de várias maneiras e bem antes da era cristã. O turbante,
inclusive, já foi símbolo de status social e poder econômico e político em
alguns povos, inclusive africanos. Aliás, esse também é o caso das tranças e
dreadlocks.
Turbantes também já foram utilizados por pintores e artistas
para proteger os cabelos das tintas e pó de mármore, fizeram parte da
indumentária de homens e mulheres europeus durante o período medieval, foram
utilizados por Maria Antonieta como peça de moda, e, finalmente, renasceram
quando Paris já era considerada a capital mundial da moda no século XX com o
estilista frânces Paul Poiret na década de 20. Turbantes também
foram muito utilizados pelas mulheres europeias durante a II Guerra
Mundial para esconder os cabelos mal cuidados devido às condições de vida
precárias da época.
No Brasil, ao contrário do que se possa pensar, o turbante
chegou com os primeiros europeus que vieram desbravar o território, não com os
negros africanos. Há relatos de que viraram moda no país com a chegada da
família real, em 1808, visto que a rainha Carlota Joaquina e outras damas da
corte desembarcaram usando turbantes para disfarçar a peste de piolhos que
acometeu os tripulantes durante a viagem.
Se levarmos ao pé da letra a ladainha de “apropriação”
cultural, então coisas como calça jeans, aviões, eletricidade, penicilina,
pasteurização, antibióticos e ressonância magnética não devem ser utilizados
por qualquer um que não seja homem, ocidental e branco, já que são fruto do trabalho
árduo de homens brancos. O mesmo vale para o famoso iPhone, acessório
desenvolvido por Steve Jobs, um americano branco, o smartphone favorito dos
justiceiros sociais para escrever textões no Facebook sobre opressão.
Se alguém está fazendo algum tipo de “apropriação cultural” são
os próprios militantes do movimento negro ao tentar transformar uma peça
utilizada por diversos povos ao longo dos séculos em algo exclusivo de um
grupo étnico “oprimido” e símbolo de luta.
http://www.ilisp.org/artigos/por-que-o-conceito-de-apropriacao-cultural-nao-passa-de-racismo-e-ignorancia/
Se cada cultura ficar em seu quadrado, não sobrará aos negros,
ainda mais aos brasileiros, muito além de cantar funk (mas rebatizem a parada)
e negociar escravas sexuais tomadas de outras tribos, que por ventura poderão
ser vendidas a algum espertalhão eurodescendente. É exatamente isso o máximo
que a esquerda tem a oferecer aos oprimidos hoje em dia. Se os racistas da
segregação racial exigiam que negros ficassem de pé no fundo do ônibus, os
racistas negros da apropriação cultural exigirão que os negros… fiquem sem
ônibus.
A estupidez é tão estúpida que ultrapassa as raias de qualquer
ridículo anteriormente proposto por comunistas e progressistas para explicar o
mundo, até a propaganda anti-colonial (que crê até hoje ser terrível que a
Inglaterra tenha dado suas maravilhosas leis a quem resolvia conflitos tribais
no tacape antes delas) ou o estupidíssimo “multiculturalismo”, pronto para
transformar várias culturas em uma única, em nome da “variedade”: como não
notar a incongruência de acusar alguém de “apropriação cultural” e defender o
multiculturalismo na linha seguinte? E quer apostar quanto que os racistas 2.0,
de fibra óptica em mãos, acham racista o veto de imigração a países muçulmanos
que querem islamizar a América? A capacidade de extrair uma conclusão coerente
de duas premissas básicas evaporou-se de mimizentos de 140 caracteres.
O desespero com um grito incongruente, a ser repetido por
modistas abobalhados incapazes de trabalhar dois bites de
informação no cerebrinho, é confessado pela preocupação gritante com brancos
que usam turbantes (uma invenção persa, definitivamente imperdível para a
humanidade — como
vamos viver sem essa merda?). Por que os patrulheiros e guerrilheiros da
justiça social não gritam contra “apropriação cultural” quando brancos admiram
Machado de Assis, Thomas Sowell, Cruz e Souza, Santo Agostinho, Lima Barreto,
Walter Williams, Gonçalves Dias, Derek Walcott? Será que esse negócio de ler é muito
“branco” para a mimimisofera de plantão?
http://sensoincomum.org/2017/02/13/brancos-negros-apropriacao-cultural
mano eu preciso do significado do barbante
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