Esta proposta é da GV, do Rio. Muito boa!
"O AR DA CIDADE liberta", diz um conhecido provérbio alemão do fim da Idade Média. Depois, no início do século 20, pensadores como Georg Simmel e Walter Benjamin mostraram como a grande cidade, lugar impessoal da massa, é, paradoxalmente, o lugar da individualidade. Pois, no contexto de comunidades pequenas, a liberdade individual está sempre tolhida pelo olhar e o julgamento do vizinho. Já na cidade grande, ao contrário, o sujeito é anônimo na multidão, por isso está
livre para ser ele mesmo, isto é, ser outro, aquilo que não se esperaria dele.
A mistura de classes sociais, culturas, línguas, etnias e religiões que se dá na cidade é o melhor antídoto que inventamos até hoje contra a intolerância e os fundamentalismos. Filha e irmã da imigração, a cidade quebra os laços estamentais e a mentalidade paroquial dos clãs, colocando as pessoas em relação imanente e horizontal: moeda, comércio, indivíduo, democracia. O mercado, porém, não coincide com a política. Enquanto o consumo é balizado pelo poder aquisitivo e
tende à desigualdade, a política existe para garantir certa equalização na multiplicidade, regulando a expansão do consumo e da desigualdade, assim como uma praça deveria ser lugar que não fosse ocupado pela "casa" ou "nome" de ninguém.
Toda a graça da cidade, por isso, repousa no fato de que ela existe para dar espaço à individualidade, não aoindividualismo. Lugar da coletividade, ela se funda sobre as noções de comum e de público.
. Adaptado.
Uma grande cidade, onde se pode viajar horas a fio sem se chegar sequer ao início do fim, é algo realmente singular. Essa concentração colossal, esse amontoado de milhões de seres humanos num único ponto centuplicou a força desses milhões... Mas os sacrifícios que isso custou, só mais tarde se descobre. Depois de se vagar durante dias pela calçadas das ruas principais, descobre-se que esses habitantes tiveram de sacrificar a melhor parte de sua humanidade para realizar todos os
prodígios da civilização, com que fervilha sua cidade; que centenas de forças, neles adormecidas permaneceram inativas e foram reprimidas... O próprio tumulto das ruas tem algo de repugnante, algo que revolta a natureza humana. Essas centenas de milhares de pessoas de todas as classes e situações, que se empurram umas às outras, não são todas seres humanos presumidamente semelhantes?... E, no entanto, passam correndo uns pelos outros, como se não tivessem nada em comum; não
ocorre a ninguém conceder ao outro um olhar sequer. Essa indiferença brutal, esse isolamento insensível de cada indivíduo é tanto mais repugnante e ofensivo quanto mais esses indivíduos se comprimirem em espaço exíguo.
Adaptado.
Nos dois textos aqui apresentados, manifestam-se visões até certo ponto antagônicas da vida nas grandes cidades e do sentido que essas concentrações urbanas adquiriram na história e na cultura. Avalie as opiniões neles contidas e redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a expor com clareza seu ponto de vista sobre o tema: A vida nas cidades: opressão ou libertação?
– A redação deverá seguir as normas da língua escrita culta*.
– O texto deverá ter, no mínimo, 20 e, no máximo, 30 linhas escritas.
– Redações fora desses limites não serão corrigidas e receberão nota zero.
– A redação também terá nota zero, caso haja fuga total ao tema ou à estrutura definidos na proposta de
redação.
– Dê um título a sua redação.
– A redação deverá ser redigida na folha de respostas, com letra legível e, obrigatoriamente, com caneta de
tinta azul ou preta.
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* As questões das provas do Vestibular foram elaboradas conforme as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
promulgado, no Brasil, pelo Decreto 6.583, em 29/09/2008. No texto escrito pelos candidatos, serão aceitos os dois Sistemas
Ortográficos em vigor.
Fim da Prova de Redação
"O AR DA CIDADE liberta", diz um conhecido provérbio alemão do fim da Idade Média. Depois, no início do século 20, pensadores como Georg Simmel e Walter Benjamin mostraram como a grande cidade, lugar impessoal da massa, é, paradoxalmente, o lugar da individualidade. Pois, no contexto de comunidades pequenas, a liberdade individual está sempre tolhida pelo olhar e o julgamento do vizinho. Já na cidade grande, ao contrário, o sujeito é anônimo na multidão, por isso está
livre para ser ele mesmo, isto é, ser outro, aquilo que não se esperaria dele.
A mistura de classes sociais, culturas, línguas, etnias e religiões que se dá na cidade é o melhor antídoto que inventamos até hoje contra a intolerância e os fundamentalismos. Filha e irmã da imigração, a cidade quebra os laços estamentais e a mentalidade paroquial dos clãs, colocando as pessoas em relação imanente e horizontal: moeda, comércio, indivíduo, democracia. O mercado, porém, não coincide com a política. Enquanto o consumo é balizado pelo poder aquisitivo e
tende à desigualdade, a política existe para garantir certa equalização na multiplicidade, regulando a expansão do consumo e da desigualdade, assim como uma praça deveria ser lugar que não fosse ocupado pela "casa" ou "nome" de ninguém.
Toda a graça da cidade, por isso, repousa no fato de que ela existe para dar espaço à individualidade, não aoindividualismo. Lugar da coletividade, ela se funda sobre as noções de comum e de público.
. Adaptado.
Uma grande cidade, onde se pode viajar horas a fio sem se chegar sequer ao início do fim, é algo realmente singular. Essa concentração colossal, esse amontoado de milhões de seres humanos num único ponto centuplicou a força desses milhões... Mas os sacrifícios que isso custou, só mais tarde se descobre. Depois de se vagar durante dias pela calçadas das ruas principais, descobre-se que esses habitantes tiveram de sacrificar a melhor parte de sua humanidade para realizar todos os
prodígios da civilização, com que fervilha sua cidade; que centenas de forças, neles adormecidas permaneceram inativas e foram reprimidas... O próprio tumulto das ruas tem algo de repugnante, algo que revolta a natureza humana. Essas centenas de milhares de pessoas de todas as classes e situações, que se empurram umas às outras, não são todas seres humanos presumidamente semelhantes?... E, no entanto, passam correndo uns pelos outros, como se não tivessem nada em comum; não
ocorre a ninguém conceder ao outro um olhar sequer. Essa indiferença brutal, esse isolamento insensível de cada indivíduo é tanto mais repugnante e ofensivo quanto mais esses indivíduos se comprimirem em espaço exíguo.
Adaptado.
Nos dois textos aqui apresentados, manifestam-se visões até certo ponto antagônicas da vida nas grandes cidades e do sentido que essas concentrações urbanas adquiriram na história e na cultura. Avalie as opiniões neles contidas e redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a expor com clareza seu ponto de vista sobre o tema: A vida nas cidades: opressão ou libertação?
– A redação deverá seguir as normas da língua escrita culta*.
– O texto deverá ter, no mínimo, 20 e, no máximo, 30 linhas escritas.
– Redações fora desses limites não serão corrigidas e receberão nota zero.
– A redação também terá nota zero, caso haja fuga total ao tema ou à estrutura definidos na proposta de
redação.
– Dê um título a sua redação.
– A redação deverá ser redigida na folha de respostas, com letra legível e, obrigatoriamente, com caneta de
tinta azul ou preta.
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* As questões das provas do Vestibular foram elaboradas conforme as novas regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa,
promulgado, no Brasil, pelo Decreto 6.583, em 29/09/2008. No texto escrito pelos candidatos, serão aceitos os dois Sistemas
Ortográficos em vigor.
Fim da Prova de Redação
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