I
Eu, Proteu
Carreira,
no sentido original na língua inglesa, proveniente do francês e do latim já com
esse
sentido, significa “estrada para carruagens”.
Durante o
século XX, porém, no contexto de uma sociedade industrial, essa concepção
foi
assimilada pelas organizações como uma estrada para a progressão profissional
ao longo
da vida e,
portanto, como promessa de mobilidade social. Para funcionar, tal modelo também
requeria
certa estabilidade no emprego e uma progressão linear baseada em uma descrição
fixa e
verticalizada dos cargos e em uma avaliação de desempenho a ela relacionada.
Esse
modelo tradicional de carreira começou a ser sacudido por transformações no
ambiente
socioeconômico desde o final do século XX, e a ideia da “autogestão da carreira”
surgiu
como reflexo dos fatos concretos que a geraram, tais como flexibilidade do
emprego, gestão do
conhecimento e compressão do tempo. Foi também impulsionado por uma retórica apoiada em
promessas de autonomia, autoconhecimento e sucesso psicológico. Alguns autores
explicam esse novo modelo de carreira recorrendo a Proteu, personagem da
mitologia
grega.
Assim, a “carreira
proteana” pode ser tomada como uma metáfora da autogestão da carreira
na atualidade: Proteu é um mito das águas, um dos velhos do mar, filho de
Oceano e Tétis,
que, dentre outras habilidades, dispunha do dom de adivinhar o futuro e da
capacidade
de assumir
diferentes formas, tantas quantas fossem necessárias para sobreviver aos ambientes
mais inóspitos.
Ampliando
o uso do mito de Proteu, o psicólogo Robert Jay Lifton propõe a expressão
“eu proteu”
como uma maneira contemporânea de pensar o sujeito moderno, que vive cada
vez mais a
experiência de um tempo fluido. Nessas circunstâncias, consegue ser um eu
maleável,
multiforme, camaleônico, disposto a assumir quantas identidades forem
necessárias
para a sua
sobrevivência social.
Trazido
para o contexto da carreira, o “eu proteu” se encarna na concepção de um
profissional
flexível, capaz de gerir o presente e o futuro de seu trabalho, assumindo o
sucesso e
o fracasso
de seu empreendimento. Gerir a carreira equivale então a desenvolver a
capacidade
de
responder, por si mesmo, às exigências da realidade, assumindo diferentes
formas ou papéis,
continuamente
pressionado pela necessidade de capacitação para vencer um ambiente em
mutação.
O modelo
de carreira proteana já permeia o discurso de muitas organizações, da mídia de
negócios e
dos cursos profissionalizantes e de educação contínua.
Isleide A. Fontenelle.
Adaptado.
A
postura que todos são forçados a assumir, para comprovar continuamente sua aptidão
moral a integrar essa sociedade, faz lembrar aqueles rapazinhos que, ao serem recebidos
na tribo sob as pancadas dos sacerdotes, movem-se em círculos com um sorriso
estereotipado
nos lábios. A vida no capitalismo tardio é um contínuo rito de iniciação. Todos
têm
que mostrar que se identificam integralmente com o poder de quem não cessam de
receber
pancadas.
Todos podem ser como a sociedade todo-poderosa, todos podem se tornar felizes,
desde
que se entreguem de corpo e alma, desde que renunciem à pretensão de
felicidade. Na
fraqueza
deles, a sociedade reconhece sua própria força e lhes confere uma parte dela.
Seu
desamparo
qualifica-os como pessoas de confiança.
T.
W. Adorno e M. Hockheimer, Dialética do
esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
1985.
Como avaliar as
ideias de “eu proteu” e “carreira proteana”? A adaptabilidade do
sujeito deve ter
limites? Como se relacionam essas ideias e as noções tradicionais de
personalidade,
caráter e identidade? Essas ideias são defensáveis do ponto de vista moral e
psicológico? Tendo
em vista essas questões suscitadas pelo assunto, além de outras que
você considere
pertinentes, redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a
expor com clareza
seu ponto de vista sobre o tema: Adotar a prática do “eu proteu” e
da
“carreira
proteana” corresponde a um ideal aceitável?
Instruções:
– A redação deverá seguir as
normas da língua escrita culta*.
– O texto deverá ter, no mínimo,
20 e, no máximo, 30 linhas escritas.
– Redações fora desses limites não
serão corrigidas e receberão nota zero.
– A redação também terá nota zero,
caso haja fuga total ao tema ou à estrutura definidos
na proposta de
redação.
– Dê um título a sua redação.
– A redação deverá ser redigida na
folha de respostas, com letra legível e,
obrigatoriamente,
com caneta de tinta azul ou preta.
* http://favaconsulting.com.br/carreira-proteana/
http://www.fumec.br/revistas/pdma/article/view/4667
https://www.youtube.com/watch?v=s8_K6xUqkbc
http://www.fumec.br/revistas/pdma/article/view/4667
https://www.youtube.com/watch?v=s8_K6xUqkbc
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