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Proposta de redação GV Rio de Janeiro/2014


I
Eu, Proteu
Carreira, no sentido original na língua inglesa, proveniente do francês e do latim já com
esse sentido, significa “estrada para carruagens”.
Durante o século XX, porém, no contexto de uma sociedade industrial, essa concepção
foi assimilada pelas organizações como uma estrada para a progressão profissional ao longo
da vida e, portanto, como promessa de mobilidade social. Para funcionar, tal modelo também
requeria certa estabilidade no emprego e uma progressão linear baseada em uma descrição
fixa e verticalizada dos cargos e em uma avaliação de desempenho a ela relacionada.
Esse modelo tradicional de carreira começou a ser sacudido por transformações no
ambiente socioeconômico desde o final do século XX, e a ideia da “autogestão da carreira”
surgiu como reflexo dos fatos concretos que a geraram, tais como flexibilidade do emprego, gestão do conhecimento e compressão do tempo. Foi também impulsionado por uma retórica apoiada em promessas de autonomia, autoconhecimento e sucesso psicológico. Alguns autores explicam esse novo modelo de carreira recorrendo a Proteu, personagem da mitologia
grega.
Assim, a “carreira proteana” pode ser tomada como uma metáfora da autogestão da carreira na atualidade: Proteu é um mito das águas, um dos velhos do mar, filho de Oceano e Tétis, que, dentre outras habilidades, dispunha do dom de adivinhar o futuro e da capacidade
de assumir diferentes formas, tantas quantas fossem necessárias para sobreviver aos ambientes mais inóspitos.
Ampliando o uso do mito de Proteu, o psicólogo Robert Jay Lifton propõe a expressão
“eu proteu” como uma maneira contemporânea de pensar o sujeito moderno, que vive cada
vez mais a experiência de um tempo fluido. Nessas circunstâncias, consegue ser um eu
maleável, multiforme, camaleônico, disposto a assumir quantas identidades forem necessárias
para a sua sobrevivência social.
Trazido para o contexto da carreira, o “eu proteu” se encarna na concepção de um
profissional flexível, capaz de gerir o presente e o futuro de seu trabalho, assumindo o sucesso e
o fracasso de seu empreendimento. Gerir a carreira equivale então a desenvolver a capacidade
de responder, por si mesmo, às exigências da realidade, assumindo diferentes formas ou papéis,
continuamente pressionado pela necessidade de capacitação para vencer um ambiente em
mutação.
O modelo de carreira proteana já permeia o discurso de muitas organizações, da mídia de
negócios e dos cursos profissionalizantes e de educação contínua.
Isleide A. Fontenelle. Adaptado.

A postura que todos são forçados a assumir, para comprovar continuamente sua aptidão moral a integrar essa sociedade, faz lembrar aqueles rapazinhos que, ao serem recebidos na tribo sob as pancadas dos sacerdotes, movem-se em círculos com um sorriso
estereotipado nos lábios. A vida no capitalismo tardio é um contínuo rito de iniciação. Todos
têm que mostrar que se identificam integralmente com o poder de quem não cessam de receber
pancadas. Todos podem ser como a sociedade todo-poderosa, todos podem se tornar felizes,
desde que se entreguem de corpo e alma, desde que renunciem à pretensão de felicidade. Na
fraqueza deles, a sociedade reconhece sua própria força e lhes confere uma parte dela. Seu
desamparo qualifica-os como pessoas de confiança.
T. W. Adorno e M. Hockheimer, Dialética do esclarecimento. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.

Como avaliar as ideias de “eu proteu” e “carreira proteana”? A adaptabilidade do
sujeito deve ter limites? Como se relacionam essas ideias e as noções tradicionais de
personalidade, caráter e identidade? Essas ideias são defensáveis do ponto de vista moral e
psicológico? Tendo em vista essas questões suscitadas pelo assunto, além de outras que
você considere pertinentes, redija uma dissertação em prosa, argumentando de modo a
expor com clareza seu ponto de vista sobre o tema: Adotar a prática do “eu proteu” e da
“carreira proteana” corresponde a um ideal aceitável?
Instruções:
– A redação deverá seguir as normas da língua escrita culta*.
– O texto deverá ter, no mínimo, 20 e, no máximo, 30 linhas escritas.
– Redações fora desses limites não serão corrigidas e receberão nota zero.
– A redação também terá nota zero, caso haja fuga total ao tema ou à estrutura definidos
na proposta de redação.
– Dê um título a sua redação.
– A redação deverá ser redigida na folha de respostas, com letra legível e,
obrigatoriamente, com caneta de tinta azul ou preta.

*http://favaconsulting.com.br/carreira-proteana/

http://www.fumec.br/revistas/pdma/article/view/4667
https://www.youtube.com/watch?v=s8_K6xUqkbc

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